Auditório lotado e muito entusiasmo em discutir jornalismo.
A terceira noite de debates da Semana de Jornalismo UFC tratou a cobertura dos
movimentos sociais como meio de reafirmar a imprensa como ferramenta de
participação popular.
Melquíades Júnior, Helena Martins e Marcelo Matos. Foto de Catherine Santos |
A relação entre jornalismo e movimentos sociais foi tema da
mesa redonda desta quinta-feira (12), na III Semana de Jornalismo da UFC. O debate
ficou por conta de Melquíades Júnior, jornalista do Diário do Nordeste, e
Marcelo Matos, integrante do Setor de Comunicação do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e membro da direção do MST-CE.
Helena Martins, mediadora da discussão, iniciou a noite
destacando a importância de se questionar o lugar da mídia na sociedade
contemporânea. Para ela, “os meios de comunicação são espaços privilegiados, de
construção de realidade, representações, experiências, até mesmo de
reivindicações”. A professora da UFC lamenta que, apesar de toda essa
potencialidade, a mídia continue com um formato oligopólico, que defende os
interesses de uma minoria privilegiada.
Os movimentos sociais quase sempre contrastam com esses
interesses, o que muitas vezes leva a uma cobertura jornalística desrespeitosa
ou, simplesmente, omissa. Por essa causa, Helena ressaltou a necessidade de
fazer da problematização e contextualização dos conflitos um prática comum no
Jornalismo. “A mídia deve ser mais reflexiva, a gente tem uma mídia que tem uma
tradição de uma informação factual que acaba impedindo que a gente consiga
contextualizar mais os fatos”, avalia ela.
Melquíades Júnior compartilhou as experiências do dia-a-dia
da sua profissão através de uma exposição de reportagens e fotos de sua
autoria. Para ele, antes de fazer as perguntas que orientam a construção da
notícia, os jornalistas devem fazer perguntas a si mesmos. “Por que eu devo
informar?”, por exemplo. O jornalista do Diário do Nordeste acredita que os
repórteres devem sentir, refletir e se envolver com a notícia para saberem como
abordar os assuntos corretamente. Melquíades entende o jornalismo como um meio
de inquietação, indignação e prazer.
Para uma abordagem séria sobre os movimentos sociais,
Melquíades afirma que os jornalistas devem trabalhar as temáticas de cada
grupo, e não focar em seus eventos pontuais. Ele também considera importante a
quebra de preconceitos em ambos os lados para facilitar o diálogo. Os
movimentos sociais só vão ganhar espaço e a devida abordagem na pauta da grande imprensa, quando os
profissionais reconhecerem, cada vez mais, o seu papel e buscarem quebrar tabus
e preconceitos. “Deve existir um maior conhecimento das questões sociais por
parte dos repórteres e talvez esse conhecimento consiga ser uma ferramenta de
pressão dentro das redações dos jornais”, analisa Melquíades Junior.
Marcelo Matos explica que um dos principais anseios do MST e
outros movimentos sociais é ter voz na sociedade. Algo que não é viabilizado
pela grande imprensa. Foi por isso, que desde o princípio, o MST procurou
produzir a própria comunicação através do jornal impresso, internet e rádio. Os
militantes chegaram à conclusão de que para ter uma informação comprometida com
os seus princípios e espaço de divulgação os comunicadores deveriam ser pessoas
dos próprios assentamentos. “Se nós não fizermos a nossa própria comunicação,
ficar a mercê da grande mídia, nós nunca vamos produzir um conteúdo com os
nossos objetivos”, afirma o diretor do MST-CE.
Para Helena Martins, a dificuldade de pensar os lugares dos
movimentos sociais inviabiliza, por exemplo, a percepção do quanto esses grupos
contribuíram para os avanços da democracia no Brasil. Eles sempre fizeram
comunicação. Antes do MST se consolidar como movimento, ele já era um folhetim.
É com vista nessas informações que a professora da UFC suscita as discussões
acerca do direito a informação e da liberdade de expressão. “A gente tem que
continuar na discussão sobre as democracias dos meios, sobre a abertura para
uma pluralidade, para participação popular”, pontua.
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