sexta-feira, 13 de abril de 2012

“O direito de lutar, o dever de informar”


Auditório lotado e muito entusiasmo em discutir jornalismo. A terceira noite de debates da Semana de Jornalismo UFC tratou a cobertura dos movimentos sociais como meio de reafirmar a imprensa como ferramenta de participação popular.

Melquíades Júnior, Helena Martins e Marcelo Matos. Foto de Catherine Santos


A relação entre jornalismo e movimentos sociais foi tema da mesa redonda desta quinta-feira (12), na III Semana de Jornalismo da UFC. O debate ficou por conta de Melquíades Júnior, jornalista do Diário do Nordeste, e Marcelo Matos, integrante do Setor de Comunicação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e membro da direção do MST-CE.

Helena Martins, mediadora da discussão, iniciou a noite destacando a importância de se questionar o lugar da mídia na sociedade contemporânea. Para ela, “os meios de comunicação são espaços privilegiados, de construção de realidade, representações, experiências, até mesmo de reivindicações”. A professora da UFC lamenta que, apesar de toda essa potencialidade, a mídia continue com um formato oligopólico, que defende os interesses de uma minoria privilegiada.

Os movimentos sociais quase sempre contrastam com esses interesses, o que muitas vezes leva a uma cobertura jornalística desrespeitosa ou, simplesmente, omissa. Por essa causa, Helena ressaltou a necessidade de fazer da problematização e contextualização dos conflitos um prática comum no Jornalismo. “A mídia deve ser mais reflexiva, a gente tem uma mídia que tem uma tradição de uma informação factual que acaba impedindo que a gente consiga contextualizar mais os fatos”, avalia ela.

Melquíades Júnior compartilhou as experiências do dia-a-dia da sua profissão através de uma exposição de reportagens e fotos de sua autoria. Para ele, antes de fazer as perguntas que orientam a construção da notícia, os jornalistas devem fazer perguntas a si mesmos. “Por que eu devo informar?”, por exemplo. O jornalista do Diário do Nordeste acredita que os repórteres devem sentir, refletir e se envolver com a notícia para saberem como abordar os assuntos corretamente. Melquíades entende o jornalismo como um meio de inquietação, indignação e prazer.

Para uma abordagem séria sobre os movimentos sociais, Melquíades afirma que os jornalistas devem trabalhar as temáticas de cada grupo, e não focar em seus eventos pontuais. Ele também considera importante a quebra de preconceitos em ambos os lados para facilitar o diálogo. Os movimentos sociais só vão ganhar espaço e a devida abordagem na pauta da grande imprensa, quando os profissionais reconhecerem, cada vez mais, o seu papel e buscarem quebrar tabus e preconceitos. “Deve existir um maior conhecimento das questões sociais por parte dos repórteres e talvez esse conhecimento consiga ser uma ferramenta de pressão dentro das redações dos jornais”, analisa Melquíades Junior.

Marcelo Matos explica que um dos principais anseios do MST e outros movimentos sociais é ter voz na sociedade. Algo que não é viabilizado pela grande imprensa. Foi por isso, que desde o princípio, o MST procurou produzir a própria comunicação através do jornal impresso, internet e rádio. Os militantes chegaram à conclusão de que para ter uma informação comprometida com os seus princípios e espaço de divulgação os comunicadores deveriam ser pessoas dos próprios assentamentos. “Se nós não fizermos a nossa própria comunicação, ficar a mercê da grande mídia, nós nunca vamos produzir um conteúdo com os nossos objetivos”, afirma o diretor do MST-CE.

Para Helena Martins, a dificuldade de pensar os lugares dos movimentos sociais inviabiliza, por exemplo, a percepção do quanto esses grupos contribuíram para os avanços da democracia no Brasil. Eles sempre fizeram comunicação. Antes do MST se consolidar como movimento, ele já era um folhetim. É com vista nessas informações que a professora da UFC suscita as discussões acerca do direito a informação e da liberdade de expressão. “A gente tem que continuar na discussão sobre as democracias dos meios, sobre a abertura para uma pluralidade, para participação popular”, pontua.

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